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segunda-feira, 10 de maio de 2010

VIOLÊNCIA.


Violência contra crianças e mulheres
é um dos principais problemas
de saúde do século 21
por Sarita Coelho
Foto: Association Française Janusz Korczak
Não posso viver confortavelmente. Sinto vergonha de ter o que comer quando sei que as crianças têm fome. Tenho desgosto de sorrir quando vejo ao meu redor faces jovens atormentadas.
Janusz Korczak (1878-1942)
O pediatra judeu Janusz Korczak manteve um lar com cerca de 200 crianças em um gueto de Varsóvia, na Polônia, até 1942, quando tropas alemãs obrigaram a ele seus meninos a irem ao campo de concentração de Treblinka. Na ocasião, o governo da Suíça lhe ofereceu passagem e uma cadeira para lecionar em uma de suas universidades. Mas Korczak recusou-se a salvar a própria vida. Pediu às crianças que vestissem suas melhores roupas, pois "iriam dar um passeio" e morreu junto a elas. O pediatra foi uma das figuras lembradas durante as celebrações do Dia Mundial da Saúde, em um evento que enfocou a violência contra crianças e mulheres, no dia 8 de abril, no Instituto Fernandes Figueira (IFF), uma unidade da Fiocruz.
Segundo a socióloga Suely Deslandes, do IFF, a violência contra crianças e mulheres é um dos principais problemas de saúde pública do século 21 e um dos obstáculos à valorização da vida de crianças e mulheres. Ela enumerou os diferentes tipos de violência, desde aquelas decorrentes das desigualdades sociais provocadas por modelos econômicos, passando pela discriminação de gênero e terminando nas originadas dentro dos próprios lares. Ela conta que 54% das crianças até 4 anos de idade nascem abaixo da linha da pobreza. Muitas delas ficando sujeitas a explorações de toda a espécie, tais como o trabalho infantil e sexual.

Korczak e as crianças do gueto,monumento localizado em Yad
Va Shem, Israel, e esculpido
por Baruch Saktsier
A exploração sexual também é um grave problema entre a população feminina. Em 2001, foram descobertas no país mais de 240 rotas de tráfico de mulheres. A precária atenção à saúde e o desrespeito aos direitos adquiridos também constituem formas de violência contra as mulheres. Segundo cientistas, o atendimento médico é avaliado segundo patamares muito modestos entre as mulheres de camadas sociais mais baixas. Elas ficam satisfeitas com a atenção quando não são mal tratadas. Já no ambiente de trabalho, mesmo nas grandes empresas, existe uma dificuldade em se fazer cumprir a lei que dá direito às mães a dois descansos especiais de meia hora cada durante sua jornada de trabalho para amamentar a criança com menos de seis meses.
Dados apresentados pela socióloga Maria Cecília de Souza Minayo, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), mostram que a violência no país aumentou muito nos últimos 25 anos. As mortes por homicídio, maior marcador de violência para os cientistas, cresceram 115%. Em relação às mulheres e crianças, o problema é ainda mais grave dentro da família, onde há casos de violência física e psicológica e de negligência em todas as classes sociais. Estudos feitos em diferentes capitais do país mostram que 15% das crianças sofrem violência física todos os dias. No caso da violência psicológica, o número sobre para 48%. Os casos de violência sexual também ocorrem mais no ambiente familiar.

Entre as possíveis soluções enumeradas pela representante da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, Bárbara Soares, ela destacou a maior integração entre as políticas de segurança, os estudos em saúde pública e a sociedade. "A violência contra a mulher é considerada como um problema de saúde pública, mas poderia ser vista também como um problema de segurança pública. Embora não provoque um medo coletivo, essa violência está muito presente na nossa sociedade e repleta de preconceito: muitas vezes, a vítima se cala e a sociedade se cala", diz.
O dia também foi marcado com entregas de medalhas de reconhecimento ao trabalho de quatro profissionais que contribuíram com a consolidação do IFF como centro de referência na atenção da criança da mulher. A pediatra polonesa Mitka Freir, pelo trabalho pioneiro na descrição do nanismo por desnutrição; ao pediatra Newton Potsch, que teve Fernandes Figueira como pediatra e trabalhou na Fiocruz enfrentando a poliomielite; Nilo Vidigal, obstetra com grande capacidade de ensinar, que fez muitos dos partos de servidoras da Fiocruz; e Ludma Dalalana Trota, pioneira no estudo da fibrose cística. Também receberam homenagens o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a Organização Pan-americana de Saúde (Opas), a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).